O ambiente capitalista em que são construídas as novas cidades determina novos valores para os homens. Valores construídos a partir do individualismo, dada a abrangência das múltiplas relações que se tornam superficiais com a ruptura da comunhão pela impossibilidade de se estabelecer tantos relacionamentos quanto o número de pessoas que estão “próximas”, pois nas metrópoles há o alargamento das distâncias entre trabalho-moradia, casa-amizades, e outros, o que descaracteriza a vizinhança, desfaz-se as relações primárias e espontâneas, o que desqualifica os amigos, impõem-se as relações secundárias e funcionais, o que cria os colegas e os invisíveis, afetados pela indiferença.
Na prevalência de tal multiplicidade de relacionamentos superficiais, cria-se o isolacionismo, pois não há vínculo com o próximo e este se torna um objeto ambulante dada a falta do vínculo afetivo, daí a indiferença, o narcisismo, a autosuficiência e o egoísmo.
O ambiente urbano contribui para o isolacionismo ao criar espaços cada vez mais coletivos e quando há o espaço individual é espaço de isolamento. Para atender tais espaços coletivos, rapidamente são destruídos os espaços antigos, cultural e religiosamente significativos.
É intrigante a leitura que o Pe J.B Libanio faz sobre o tema em seu artigo “A igreja na cidade”, ao argumentar que :
“a destruição dos espaços tradicionais afetou diretamente a pastoral e o imaginário religioso. O nosso inconsciente é feito de sons e cheiros, de toques e gostos, de visões e sentimentos, percebidos e armazenados. E toda vez que uma tecla os provoca, brotam as experiências passadas. Ora, o inconsciente religioso forma-se, no campo e nas pequenas cidades, com os incensos das igrejas, o dobrar dos sinos, o corte majestoso da igreja paroquial, o murmúrio das preces, o arrastar-se das procissões ao som estridente das bandas, o soar dos órgãos ou harmônios, a voz decidida e preceptiva do vigário. A grande cidade tem o condão de silenciar-lhe todos esses estímulos. Mais profunda ainda se dá a mudança, ao atingir a própria lógica espacial da cidade. Quando se diz vulgarmente que o shopping assumiu o lugar da catedral não se traduz simplesmente uma percepção visual. Revela tal fato a nova lógica espacial da grande cidade que afeta intimamente o universal religioso e de valores das pessoas. Com efeito, a centralidade da igreja matriz da pequena cidade refletia a posição de destaque do Transcendente na vida das pessoas e da sua mediação histórica institucional da Igreja. O shopping desloca o Transcendente religioso para o interior das pessoas, para fora do campo visual, cercando o mercado, a mercadoria, com o esplendor e a beleza, que antes vestiam os ritos religiosos.” (Disponível em: http://www.jblibanio.com.br/modules/wfsection/article.php?articleid=221)
Em um quadro de isolamento coletivo, o homem é provocado pelo instinto animal da luta pela sobrevivência, orientado por uma ideologia de sucesso, eficácia, desempenho, competitividade, excelência e qualidade total para ser o melhor sem “se lixar” (lembrando a expressão do deputado, homem público que busca o individualismo) pelo que os outros estão passando e acaba por embriagar-se em um consumismo compulsivo, consumismo que comanda os desejos do homem e ocupa o inconsciente da religiosidade, daí a necessidade de despertar o homem para a lógica da fé que orienta o homem para uma prática cristã voltada para o amor ao próximo, que aniquila a indiferença e o individualismo, pois a lógica do evangelho é firmada no conceito comunitário e de koinonia, o que impõe à prática pastoral um discurso contrário à lógica urbana do individualismo.
André Luiz Gomes Schröder
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