HOMILIA
André Luiz Gomes Schröder
“[...] não vos inquieteis, dizendo: Que havemos de comer? ou: Que havemos de beber? ou: Com que nos havemos de vestir?” [Mateus 6:31]
Quantos de vocês já investiram em segurança? Muros altos, portas reforçadas, grades nas janelas, alarmes nos carros... Quem já chegou a casa tarde da noite e ficou com medo, olhando para os lados com receio de ter alguém escondido à espreita?
Medo, segundo o Dicionário Aurélio, é “sentimento de grande inquietação ante a noção de um perigo real ou imaginário, de uma ameaça; susto, pavor, temor, terror”.
Estamos vivendo a “ERA DO MEDO”. O medo é tamanho que há o surgimento de uma nova doença: a síndrome do PÂNICO! Esta doença já é considerada um problema sério de saúde. Atualmente 2 a 4% da população mundial sofrem deste mal, que acomete mais mulheres do que homens em uma proporção de 3 para 1. São pessoas que relatam que possuem tanto medo que “toda vez que me preparo para sair, tenho aquela desagradável sensação no estômago e me aterrorizo pensando que vou ter outra crise de pânico”.
Outro paciente relatou ao seu psicólogo: "De repente, eu senti uma terrível onda de medo, sem nenhum motivo. Meu coração disparou, tive dor no peito e dificuldade para respirar. Pensei que fosse morrer".
Essas pessoas chegaram a essa condição não por uma situação fática, real ou iminente, mas sim por um perigo imaginário, pelo medo do futuro.
Jesus Cristo, há dois mil anos, fez uma advertência muito atual e que hoje os homens padecem por não dar ouvido à sua voz. Em Mateus capítulo 6, versículo 25, Ele diz:
[...] Não estejais ansiosos quanto à vossa vida, pelo que haveis de comer, ou pelo que haveis de beber; nem, quanto ao vosso corpo, pelo que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o alimento, e o corpo mais do que o vestuário?
Convido você para pensar e refletir: Pode o Homem viver sem medo ou temor? Onde está sua preocupação? Onde está concentrada sua atenção na direção da sua vida?
1 TEMOR MALÍGNO DO PRESENTE SÉCULO
Para que o receio chegue ao medo, ao temor, ao pânico, é necessário desencadear um processo de constante temor, fruto de uma constante insegurança. Insegurança quanto ao trabalho, a escola, alimento, vestuário; insegurança na vida sentimental; insegurança por querer se autoafirmar perante os amigos. É querer mostrar o último lançamento de celular, mostrar o “carrão”, a calça de grife, o MPTudo.
Muitos estão ansiosos porque tem medo do sofrimento. Aquele sofrimento que pode vir pela dor em razão de uma doença que não é tão grave como verdadeiramente é, mas o sofrimento, este sim, é grave como se já estivesse à beira da morte.
Há o sofrimento pela falta do alimento ante a absoluta falta de possibilidade de prover a subsistência, mas há também a falta de alimento em razão dos gastos com o vício ou com a vaidade. São pessoas que nunca deram ouvido à voz do profeta Isaías “porque gastais o vosso dinheiro naquilo que não é pão, e o vosso suor, naquilo que não satisfaz? (55:2). A vaidade consome a maior parte do salário das pessoas.
Em meio ao turbilhão capitalista que torna o Homem cada vez mais preso ao imediatismo e ao consumismo, completamente refém das incertezas, devemos parar para ouvir a voz de Cristo que nos interpela:
Mateus 6:25-28 [...] Não estejais ansiosos quanto à vossa vida, pelo que haveis de comer, ou pelo que haveis de beber; nem, quanto ao vosso corpo, pelo que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o alimento, e o corpo mais do que o vestuário?
Olhai para as aves do céu, que não semeiam, nem ceifam, nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta. Não valeis vós muito mais do que elas? Ora, qual de vós, por mais ansioso que esteja, pode acrescentar um côvado à sua estatura? E pelo que haveis de vestir, por que andais ansiosos? Olhai para os lírios do campo, como crescem; não trabalham nem fiam;
Não quero anunciar um movimento de “liberdade”, “falta de zelo”, “despreocupação” ou “irresponsabilidade”. Não defendo uma filosofia contemplativa da natureza sem nos preocuparmos com o que virá amanhã. Não estou anunciando um movimento hippe, mas quero mostrar onde deve estar centrada a nossa preocupação. A questão é quais os valores que devemos cultivar. O quê realmente faz a diferença em nossa vida, pois dentre as angústias causadas pelo materialismo há também o medo da solidão, desprezo ou abandono. Medo da separação, da perda e, o pior deles, “medo da morte”.
O medo da morte é angustiante, é cheio de incertezas. O medo da morte é apavorante porque seus olhos não veem além desta vida. Isso porque você olha com os olhos que é limitado pelo que é material. Eu te convido a abrir, hoje, os olhos da fé. Esqueça por alguns instantes o plano de previdência, o plano de saúde, os investimentos seguros. Esqueça qual curso ou profissão que traz a garantia de dias melhores. Ouça agora o que Cristo tem a lhe dizer:
E não temais os que matam o corpo, e não podem matar a alma; temei antes aquele que pode fazer perecer no inferno a alma e o corpo [Mateus 10:28].
O que você tem preparado para depois de sua morte? Suas preocupações, suas angustias cuidam somente dos teus dias sobre a Terra? E depois da morte, o quê virá? “...não temais os que matam o corpo ... temei antes aquele que pode fazer perecer no inferno a alma e o corpo”.
2 TEMOR QUE DEVE ESTAR PRESENTE NA VIDA
Parece que estou sendo contraditório. Há pouco não falei que deveríamos nos livrar das preocupações deste mundo? Como é que estou dizendo que há temores que deve estar presente em nossas vidas?
É isso mesmo! Há “novos” tipos de temores que deve estar presente em nossas vidas. Devemos temer “aquele que pode fazer perecer no inferno a alma e o corpo”.
Talvez você possa estar pensando: “maldita a hora em que entrei aqui para ouvir essas palavras; não bastam minhas angústias, minhas incertezas, meu desespero?” Tenho agora que me preocupar com o que virá depois da morte? Como pode ser isso se não sei nem mesmo como será minha aposentadoria?
Meu amigo, o erro que consome o Homem é não se libertar da visão limitada por esse corpo humano e olhar para o universo, olhar para Deus, o Criador:
Salmo 8:3-5
Quando contemplo os teus céus, obra dos teus dedos, A lua e as estrelas que formaste; Que é o Homem, para te lembrares dele? E o filho do Homem, para o visitares? Pois o fizeste pouco abaixo de Deus, de glória e de honra o coroaste.
- Espere aí! Onde está a glória e a honra do Homem? É a Bíblia que está declarando que o Homem tem honra e gloria, mas parece que minha honra e minha glória não são tão grandes assim. Não moro em um castelo, não tenho uma “carruagem motorizada”, não tenho roupas reais....
- Pare! Esta é a visão material. Olhe com os olhos da fé.
A glória e honra que Deus concede ao Homem é a possibilidade de estabelecer uma comunhão com Deus. Sendo Deus perfeito – sem pecado, em quem não há maldade ou injustiça, em quem há o poder criador que fez todas as coisas – não pode subsistir em sua presença a imperfeição. O Homem é imperfeito pois ele comete injustiça, pratica a maldade, corrompe o juízo e, pelo egoísmo e indiferença, suporta ver o semelhante passar necessidade enquanto se deleita na abundância.
- Então, se o Homem é imperfeito ele não pode ser revestido da honra e glória por Deus. É impossível a comunhão do Homem com Deus.
Verdadeiramente, seria impossível a comunhão do Homem com Deus se não fosse a disposição de Deus em se aproximar do Homem. Deus tem se esforçado para que o Homem tenha comunhão com Ele. Cristo disse: Vinde a mim todos que estais cansados e oprimidos, que Eu vos aliviarei. Ele está disposto a tirar das nossas costas o peso que tanto nos incomoda. E este é o peso do seus temores, o peso da sua ansiedade, do seu pânico.
Deus não quer simplesmente tirar o peso que lhe aflige. Ele lhe faz uma proposta, propõe uma troca. Ele quer trocar o seu peso de angústias, aflições desesperos e pânico pelo peso do fardo de Cristo.
- Que vantagem eu terei? Não estarei trocando seis por meia dúzia? Se eu vou carregar um fardo carrego aquele que eu já conheço.
- Não, meu amigo, nessa troca quem ganha é você.
O peso que Ele oferece é o peso de um fardo “leve e suave”. Cristo te chama para trilhar o caminho que Ele abriu.
Talvez você não perceba o que isso significa, pois está acostumado a andar em ruas asfaltadas, iluminadas, com postos de apoio por toda parte. Pense nos portugueses que chegaram ao Brasil quinhentos anos atrás. Não havia estradas, não havia carros, não tinha hotéis... não tinha Brasil. Se você desembarcasse em Porto Seguro (na Bahia que ainda não existia) e resolvesse caminhar até “Grande Dourados”, enfrentaria uma viagem por demais difícil. Seria necessário abrir seu próprio caminho, carregar todo o mantimento necessário, garantir que em sua rota haveria água, enfim, carregar até sua própria cama. Hoje nada disso seria necessário. As estradas estão abertas, há postos de apoio para comida e hospedagem. Tudo está mais fácil.
O caminho que leva o Homem até Deus não estava aberto para Cristo. Foi necessário que Cristo abrisse esse caminho com a sua própria vida. Foi necessário que Cristo fosse crucificado, sem haver pecado, sem ter cometido nenhum erro, para que houvesse a regeneração do Homem e eu e você pudéssemos ser aceitos perante Deus com os nossos erros perdoados.
Mas hoje Deus faz uma pergunta: Quem há entre vós que tema a JEOVÁ? [...] quando andar em trevas, e não tiver luz nenhuma, confie no nome do Senhor, e firme-se sobre o seu Deus. [Isaías 50: 10].
O seu “temor” é o “temor” de Deus? Deus quer um temor no sentido de reverência ou de respeito a Deus. Respeito e reverência querem dizer acatamento da autoridade. Acatamento da autoridade implica em obediência, para haver obediência é preciso aprender as regras e a regra de Deus é a regra do amor.
Deus promete força, apoio enquanto atravessamos as dificuldades. Ele não promete acabar com toda e qualquer dificuldade, mas promete ser a força necessária para vencer qualquer dificuldade. A promessa não é extinguir as distâncias, mas ser o apoio necessário para a viagem.
O apóstolo Pedro já ensinava aos seus discípulos: “Lançai sobre ele toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós” [I Pe 5:7].
O apóstolo Paulo exortou aos filipenses para que “não andeis ansiosos por coisa alguma, mas em tudo, pela oração e pala súplica, com ações de graças, sejam as vossas petições conhecidas diante de Deus [4:6]
O erro do homem é ignorar apoio de Deus e enfrentar sozinho seus temores, suas ansiedade. Não tenha medo de enfrentar seus problemas, tenha medo sim, de não contar com Deus para lhe auxiliar.
Quem és tu que te esqueces de Jeová, teu Criador, o qual estendeu os céus e fundou a terra; e que o dia todo temes continuamente por causa do furor do opressor, quando se prepara para destruir? onde está o furor do opressor? [Isaías 51:13]
Eu, eu sou o que vos conforta; quem és tu, para teres medo de um Homem que morre, e do filho do Homem que se tornará como feno? [Isaías 51:12]
Se há um temor que deve habitar permanentemente a vida do Homem, é o temor da separação de Deus, da falta de comunhão com Deus, do distanciamento de Deus.
3) AS CONSEQUÊNCIAS DE UMA VIDA SEM TEMOR
Quando o Homem vive sem o temor a Deus e procura andar guiado por suas próprias regras, ele não pode contar com esse “Deus que conforta”, com o Deus que lhe dá a despreocupação com o que haverá de vestir ou o que haverá de comer, muito menos poderá ter qualquer esperança após a morte, pois andar sem o temor a Deus é andar em uma vale escuro, sem luz alguma e sem o amparo do Deus amoroso que se tornou como um homem e morreu sem pecado para restaurar o único caminho que nos leva ao Deus Pai.
Viver sem o temor a Deus é abraçar a condenação do pecado “Porque todos pecaram e destituídos estão da Glória de Deus” [Romanos 3:23]. A glória com que fomos revestidos, coroados na criação, nós a perdemos com o pecado. Somente o temor a Deus, que também é a fé em seu poder restaurador, poderá nos reconciliar com Deus.
Para aqueles que vivem sem o temor do Senhor só há uma condenação. Não há meio termo. Cristo garante que no julgamento final a sentença será: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o Diabo e seus anjos [Mateus 26:41]. Se a condenação para a vida futura é o fogo eterno, para a vida presente também não há esperança: é carregar sozinho o fardo desta vida.
Conclusão
Sabe por que tenho que temer a Deus? “Porque o salário do pecado é a morte” [Romanos 6:23]. Certo? Errado! Tenho que temer a Deus, tenho que ter o temor reverencial, o temor de acatamento da autoridade de Deus porque “o dom gratuito de Deus é a vida eterna, por Cristo Jesus nosso Senhor”.
A vida eterna é o dom de Deus para quem o teme, porém, estar reconciliado com Deus é também desfrutar de uma comunhão presente. Não é apenas uma comunhão futura. Não pense que Isaías profetizava sobre os céus ao falar que “quando andar em trevas, e não tiver luz nenhuma, confie no nome do Senhor, e firme-se sobre o seu Deus” [Isaías 50: 10]. Nos céus não haverá trevas. Nos céus haverá permanente luz sobre aqueles que em vida temeram ao Senhor e em vida receberam sua ajuda.
Porque eu, o SENHOR, teu Deus, te tomo pela tua mão direita e te digo: não temas, que eu te ajudo. Isaías 41:13 (RC)
Faça, hoje, uma troca. Deixe todos os seus temores, angústias, inseguranças, pavor ou pânico e tema somente ao Senhor Jesus Cristo. Ouça a sua voz:
Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei [Mateus 11:28].
Ora, amados, visto que temos tais promessas, purifiquemo-nos de toda a imundícia da carne e do espírito, aperfeiçoando a santidade no temor de Deus [II Coríntios 7:1].
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