Os três primeiros séculos de nossa era abriga o primeiro período da patrística da igreja cristã, período que se prolonga até o século VII.
É o período em que se dá a paternidade da igreja, pois se constrói
nesse período o berço doutrinário do cristianismo, com as verdades
doutrinárias da fé [os dogmas] onde se firmam as raízes das respostas
que o cristianismo requereu e requer ao longo dos séculos. É nesse
período que são criadas as normas de disciplina, o estabelecimento da
liturgia, a consolidação dos costumes cristãos, se constrói a ética
cristã e se cria um ambiente de defesa contra o avanço das heresias e
de ataques aos “pagãos” que não aceitavam suas verdades.
Na
busca de estabelecer suas bases, nesse período o cristianismo exerceu
um forte poder de atração e provocou um embate entre fé e razão, não
por consciência filosófica daqueles que provocaram o embate, mas por
necessidade apologética para fazer subsistir o cristianismo pela
introjeção das construções filosóficas e dos axiomas que formam a
essencialidade do pensamento cristão. Tal embate filosófico não se
formou em via única influenciando tão somente o cristianismo, mas houve
influência na filosofia contemporânea, pois para combater algo deve
conhecer muito bem a si e a seu inimigo, de forma a atingir os pontos
certos. Assim, o embate deu início a várias construções filosóficas,
mas muitas ficaram encubadas e somente foram aprofundadas
posteriormente, pelos medievais.
É
perceptível a influência cristã na filosofia dos três primeiros
séculos, principalmente na reformulação dos conceitos chaves como o
teocentrismo, antropocentrismo, logos, amor, Deus Pai e Deus Criador,
alma, além da construção das formas de origem teológica para a
inteligibilidade de conteúdos não teológicos.
Os
líderes da patrística, conhecidos como Pais ou Padres da Igreja
escreveram a História da Teologia, não só sob o prisma da ação de
registro dos fatos ocorridos mas também da sistematização do pensamento
teológico, pois ao escreverem dedicaram-se a transmitir aos fiéis “quem
é Jesus para nós” e “quem somos nós a partir de Jesus”. Nesta tarefa
muitos patrísticos falavam de martírios, como “A paixão de Perpétua e
Felicidade”, escrito em Cartago por volta de 202, durante o período em
que sua autora aguardava execução por se recusar a renegar a fé cristã.
É
bem verdade que nos séculos II e III surgiram muitos relatos apócrifos
que romantizavam a vida de Cristo e os feitos dos apóstolos, porém
muitos cristãos escreveram para combater as idéias gnósticas e de
outras filosofias que consideravam heréticas, sendo os primeiros
autores desse gênero Justino mártir, professor cristão condenado à
morte em Roma por volta do ano 165; Taciano, inimigo da filosofia;
Atenágoras; e Teófilo de Antioquia. Entre os gnósticos, destacou-se
Marcião.
Ao
escrever o primeiro tratado coerente sobre as principais doutrinas da
teologia cristã [Contra Celsum e Sobre os princípios], destacou-se
Orígenes, mas muitos outros nomes relevantes merecem registros como
Clemente de Alexandria, Tertuliano de Cartago, Eusébio de Cesaréia
Gregório Nazianzeno, Gregório de Nissa e João Damasceno, santo
Ambrósio, são Jerônimo (tradutor da Bíblia para o latim) e santo
Agostinho, este considerado o mais importante filósofo em toda a
patrística. Além de sistematizar as doutrinas fundamentais do
cristianismo, desenvolveu as teses que constituíram a base da filosofia
cristã durante muitos séculos. Os principais temas que abordou foram as
relações entre a fé e a razão, a natureza do conhecimento, o conceito
de Deus e da criação do mundo, a questão do mal e a filosofia da
história.
Assim,
é na construção do pensamento filosófico-cristão e na tradição que a
patrística lança os fundamentos da Teologia e se torna precursora de
sua própria história.
Durante
o período da patrística os Pais da Igreja são reconhecidos como Pais ou
Padres Apostólicos e Apologetas. Vamos à suas distições:
Padres apostólicos
são os mais antigos dos Padres da Igreja, pertencem à geração imediata
aos apóstolos. Seus escritos dão testemunhos da fé cristã e respondem
a determinadas exigências concretas dos cristãos e respondem a questões
morais, disciplinares e culturais, porém não há grande aprofundamento
no conteúdo doutrinário, porém se apresenta como fundamento para o
pensamento cristão, voltado para a edificação dos fiéis, caracterizando
assim como escritos pastorais.
Dentre os Padres Apostólicos se destacam Clemente Romano, Inácio de Antioquia, Policarpo de Esmirna, Papias, Hermas.
Padres apologetas
são os padres mediadores entre o cristianismo e a cultura helenística.
Defenderam o cristianismo e apresentaram a essência da nova fé durante
o século II e estavam concentrados na Palestina, no Norte de África
(Cartago e Alexandria), na Ásia Menor, em Roma e na Grécia.
Os
apologetas eram pagãos, intelectuais e filósofos convertidos ao
cristianismo e que buscavam aplicar às novas convicções, as categorias
e modos de pensar próprios do mundo helênico. Em que pese tal ambiente
representar uma influência helênica no cristianismo, os escritos dos
apologetas eram dedicados mais ao mundo não cristão, representando uma
incursão do cristianismo na filosofia, a fim de responder aquilo que
era considerado insultos, calúnias, mentiras superstições, fanatismos,
e acusações de que a Igreja se constituía um perigo ao Estado, bem como
para apontar que a filosofia apoiava-se na razão humana, porém o
cristianismo se revelava a verdade absoluta por ser a filosofia divina.
Tais
concepções podem ser vistas nas obras de Aristides, Justino: e a sua
"Apologias" a qual dirige-se aos pagãos e o "Diálogo com Trifão" que
dirige-se a um grego, Taciano, o Sírio e o "Discurso aos gregos";
Atenágoras; Teófilo de Alexandria; Minúcio Félix e o "Diálogo com
Octávio", Tertuliano.
Os
Padres Apologéticos são os primeiros teólogos da Igreja, pois lançaram
os fundamentos da ciência de Deus, pelo seu grande legado diz-se que
“suas obras cristianizou o helenismo mais do que se helenizou o
cristianismo.
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